Naquela Mesa
Ainda tenho a nítida visão
daquela mesa, sempre ocupada
nas refeições por meu pai, por minha mãe,
por mim e por meus nove irmãos.
Mas vi, com o passar do tempo,
dez cadeiras serem esvaziadas.
Menos a de minha irmã mais velha
e a de minha viúva mãe amada,
que continuam a morar na mesma casa.
Eu ainda vi cada irmão se separar,
buscando alcançar novos ares.
Mas nenhum de nós deixou de lá se encontrar,
naquela mesa, onde haverá sempre doze lugares.
O tempo não para, continua a passar.
A gente vai envelhecendo naturalmente.
E quando as invisíveis trombetas anunciarem a hora,
inevitavelmente, cada um de nós vai embora.
Mas, enquanto um de nós estiver na Terra,
seremos sempre doze fraternos irmãos.
Sentaremos sempre àquela mesa,
construída pelas mãos de nosso saudoso pai,
que partiu com a nossa pura dileção.
E, ainda hoje,
naquela mesma mesa, se ouve doce homilia...
e se escreve a bela história
da união de nossa família,
que eu versejo no relicário da memória.
Sanches Figueiredo
Rio de Janeiro - RJ